quarta-feira, 22 de abril de 2009

Fragmentos de Lágrimas e Sorrisos Inteiros

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A chuva não cessava. Nunca. Sempre. Tanta água. Tanta! Parecia pranto. Mas, não era. Alguém que devia estar chorando. Chorando. E correndo. Clarisse corria. Na chuva. No tempo. No pranto de alguém. Ela nem conhecia. Mas, corria. Sem rumo. Sem direção. Por ruas inabitadas. Por vilas inexistentes. Desertas. Ruas que ela escrevia. E descrevia. Em seus poemas. Clarisse fazia versos. Chorava com eles. Neles. Corria. Afundava em mares desconhecidos. Inventados. Onde sempre chovia. Sempre. Não era Lispector. Quem dera! Ah! Quisera... Mas, era Clarisse. Com dois esses. Dois. Essa corria. Seus versos a guiavam. Nem sempre era dor. Muitas vezes sorria. Também. Na chuva. Constante. Ininterrupta. Porque chovia sempre. E a chuva limpava. E trazia alegria. Clareza. Clarisse. Na chuva. Os pensamentos eram límpidos. Mais. Também suaves. Por isso que, às vezes, doía. Clarisse enxergava dentro. E o que está dentro, nem sempre, é para ser visto. Mexido. Tocado... Lembrado! Nem sempre. Quase nunca. E sorria. Tantas vezes. Melhor os sorrisos. Melhores. Compensava. E o sol saia, enfim. O sol. Mesmo na chuva. A chuva. Que não parava nunca. Nunca. O sol iluminava. Os sorrisos. Aqueciam. Clarisse corria. Continuamente. Ininterruptamente. Simplesmente. Sem frio. Sem fome. Sem sono. Sem descanso. Sem pudor. Sem roupas. Sem trancas. Sem direção. Sem razão alguma. Nenhuma. A menor, que fosse. Não tinha. Clarisse não precisava. Só corria. E fazia versos também. Na chuva. Para sentir-se mais humana. Humana. Não se sentia assim. Quase nunca. Nunca mesmo. Por isso corria. Por isso chorava. Por isso sorria. Por isso sonhava. Por isso os versos. Seus abrigos. Refúgios. Abrigos. Recantos. Cantos. Céu aberto. Expostos. Desprotegidos. Não havia necessidade. Não existia o perigo. Nenhum. O mínimo. Só o medo. O medo. Este existia. De verdade. Medo de parar. Um dia. Não queria parar. Nunca. De não mais correr. De não mais sorrir. De não mais chorar. De não mais sentir. De parar. De não sonhar. Nunca mais. Não podia parar. Nunca. O que faria depois? Nem por um só instante. Um único. Tinha que chover. Tinha que molhar. Tinha que banhar tudo. E inundar. Também tinha. O que já transbordava. O que já estava na tampa. No limite. Circunspecto. Fabuloso, todavia. Fronteiriço. De sua existência. A razão. Sua razão. A que Clarisse não tinha. Porque nunca encontrara. Só sabia. E sentia. E sorria. E chorava. E corria. E fazia versos. De tudo isso. Era poeta. Da chuva. Do movimento. Dos dias em que chorava. Dos outros dias. Também. Dos que sorria. E chorava. Em outros tantos. Mas, corria. E fazia versos. Poesia. Construía versos. Versos. Rimava estrofes. Desenhava sonetos. Desenhava sim. Com as gotas da chuva. Com os pingos de lágrima. Com os fragmentos de sorrisos. Com as lascas dos sonhos. Com o movimento da corrida. Constante. Intensa. Translúcida. Sorridente. Atemporal. Transpassada. Chorosa. Viva. Poeta... Assim era Clarisse!

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