Lembrei-me dia desses da fábula de Esopo, chamada “O Caçador Medroso e o Lenhador”, ao refletir uma frase comum que vejo com frequência no Facebook: "se fulano (a) saiu da minha vida foi livramento!". Como humilde filósofo que sou, faço a seguinte questão: é livramento de quem? Já parou (provavelmente não) para pensar que, talvez, quem se livrou foi quem saiu da sua vida? Por que o problema é sempre o (a) outro (a)? Ou você considera que a pessoa não é digna da sua presença ou você acredita verdadeiramente que é muito superior a quem te cerca.
Outra questão: você prensa que quem saiu da sua vida saiu por que não
tem caráter ou por que não te considera importante? Ou essa pessoa se foi por
que você não a cultivou perto de ti? Talvez você ficou tanto esperando que essa
pessoa viesse, ou lhe enviasse mensagens, ou que se mantivesse perto de você
que não percebeu que quem não mandou mensagem, quem não ficou próximo (a) foi
você! As relações humanas são como ruas de mão dupla. Ou seja, o mesmo caminho
que traz alguém até você pode levar você até ele (a).
Há
algum tempo comecei a perceber, na minha própria vida, que se eu não mandasse
mensagens para as pessoas que amo quase nenhuma delas se lembrava de me mandar.
Mas, eu sempre fazia isso... E no momento em que eu parei de cultivar as
pessoas perto de mim, elas começaram a se distanciar. Mas, nem por isso, fui a
redes sociais dar indiretas ou alfinetadas... Amo amigos, amigas, pessoas da
minha própria família, que hoje em dia são extremamente distantes de mim. Mas,
não foi livramento nem meu e nem delas. Foi falta de cuidado mútuo, de zelo, de
manutenção e, talvez, de parar um minuto e lembrar que algum dia a saudade será
permanente, irreversível. Anne Frank diz em seu diário que os mortos recebem
mais flores do que os vivos porque o remorso é maior do que a gratidão. Quem
mais me cobrou ou cobra a minha presença é quem menos faz para estar
presente.
Então,
a mesma energia gasta em escrever em rede social ou em pensar que algum
ser superior livrou você de alguém, poderia ser usada para escrever para
essa pessoa que está fazendo falta (porque está te fazendo falta, ou não haveria
indireta em Facebook) e dizer que você a ama, que está com saudade, que sente a
falta dela. Quando uma flor está secando não se recupera com pisadas ou
ofensas, e sim com cultivo, com cuidado, com dedicação.
Agora, se está confortável para você ficar agarrado (a) no orgulho, na soberba, na arrogância, na mesquinharia de achar que você é tão melhor do que as pessoas das quais alguma divindade está te livrando, daí são outros quinhentos!