domingo, 8 de outubro de 2023

Café Bethânia

 

Ouvir Bethânia no domingo de manhã me dá uma sensação tão confortável de ter vencido na vida...

Hoje, a manhã chegou dengosa, com chuva forte e tranquila, como um amante que sabe a intensidade que deve empregar na pegada para não ser meloso, mas deixando a vontade de querer mais. Toda silenciosa e úmida, me despertou com aroma de vontade de viver. Perdi o sono.

Levantei.

Ritual sagrado e cotidiano de reverenciar a vida com um café da manhã sereno. Minha forma de agradecer a vida é respeitar o meu despertar todas as manhãs. Faço meu café, observo a tranquilidade do dia nascituro, sou invadido com intensidade e doçura por uma gratidão genuína e luminosa. Isso me faz vivo. Torna-me grato.

Todos os dias, as obrigações incessantes, os compromissos famintos, os horários a serem obedecidos. Todos os dias. Não antes do café sagrado. Não antes de deixar a minha consciência reconectar-me com o que me importa, verdadeiramente.

Hoje não.

Hoje é domingo.

Domingo é dia de esquecer que existe relógio. Porque o tempo cronológico é capataz do desperdício. A vida que mingua minuto a minuto regando todas as vivências que vamos derrubando pela estrada. Cada passo do ponteiro é um plano, um sonho, uma intensão, uma vida inteira que fica pelo caminho, à espera da colheita que nunca se faz.

E Bethânia floreia meu coração.

O café fumegando na caneca, cirandando o balé da tranquilidade com que me presenteia o domingo. A chuva cadenciando as batidas do meu coração. E Bethânia acarinhando a minha alma com sua voz, sua arte, sua grandeza tão naturalmente despretensiosa. Ouvir Bethânia no domingo de manhã me traz a sensação tão quentinha de ter vencido na vida. Porque, para mim, ser bem sucedido é exatamente isso: alcançar a capacidade de colher a grandeza de apreciar uma canção na voz de Bethânia na paz de um domingo de manhã cheirando a café fresco. O dia hoje está tão Bethânia! O resto? É só resto...