quarta-feira, 3 de abril de 2024

As borboletas

Gosto das lições das borboletas.

A beleza delas não é uma imposição. É um presente. Quem tiver sensibilidade suficiente que aprecie. Ou não. Elas estão lá da mesma maneira.

Há quem tenha medo delas.

Há quem as venderem.

Há que as tatuam.

Há que as evitam.

Há que as matam.

Há quem as eternizam em fotografias.

As borboletas que são belas não são forçosamente esnobes. Aquelas que não são belas, da mesma maneira, não são inferiores. Elas são. Apenas isso.

Quando são.

Enquanto são.

Não há artificialidade em sua existência.

São frágeis. São indefesas. São mansas. Nada mais. Nada menos.

A existência delas depende de um processo demorado e necessariamente difícil de rompimento de casulo. 

É preciso ainda considerar que são a materialização do significado visível da trans-for-ma-ção. Uma lagarta que se renova. Transforma-se. Transmuta-se. E, como se este processo já não bastasse, ela deixa uma condição de rastejante para atingir a condição de alada. Isso significa que sua mudança, sua transformação acontece em direção a um aspecto evolucionário. Ela não impõe isso a ninguém. A não ser a si mesma. 

O que é bom para ela não é imposto. É apenas bom para ela.

Quem quiser que se transforme.

Quem não quiser que rasteje.

E admire!

sábado, 2 de março de 2024

Ah, piá!

Hoje eu me lembrei de um menino, muito jovem, que chegava em Cascavel, no Paraná, há vinte anos... Caraca, vinte anos já! Duas décadas! 

 

Uma mochila que servia de mala, uma sacola de livros, um colchão de solteiro enrolado e amarrado com fio de varal, e completamente apavorado por desbravar uma etapa nova da vida em uma terra completamente estranha para ele. 

 

Os medos e as incertezas vinham ciscando atrás, sempre fortes e se multiplicando rapidamente. 

 

Quantas lágrimas noturnas foram sua oração antes de dormir. Era visível o turbilhão de emoções que aquele menino carregava no peito. 

 

A aprovação no vestibular de uma excelente universidade pública (Unioeste) foi o pretexto para vir, mas a necessidade de sobreviver a si mesmo e por si mesmo sempre foi o seu maior motivo. 

 

E lá se vão vinte anos completados essa semana... A vida, de fato, passa muito rápido! 

 

Tantas coisas, tantas pessoas, tantas histórias ficaram para trás... Depois de um tempo a gente descobre que nem tudo e nem todos são bagagens que seguirão viagem contigo, e sim âncoras! E âncoras podem deixar você estagnado. Aquele menino teve que quebrar muitas correntes que o afundavam lentamente. 

 

Se eu pudesse, correria na rodoviária de vinte anos atrás e daria um abraço muito apertado naquele menino. Apesar do atraso de quatro horas do ônibus fedorento. Mal sabe ele que algumas lições vão custar bem caro... E quanto conhecimento e aprendizado conseguimos juntos! 

 

Aquela terra estranha, que nunca lhe deu absolutamente nada de graça ou fácil, hoje é a sua casa. 

 

Eita, que saudade daquele menino... Hoje, eu e ele sabemos quanto valor tem um pãozinho com café em nossas vidas, heinl  

 

Ele tinha coisas, naquela época, que eu já não tenho! Eu sou, hoje, o homem que ele batalhou tanto para ser!

 

Ah, piá do dianho!