quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Eterno Esperar... Esperar...

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Na manhã de um domingo ensolarado o poeta acordou vazio. Como se isso fosse possível, ele perdera a inspiração. Como foi acontecer aquilo? Na noite anterior embriagara-se com vinho tinto... Desses que custa qualquer vintém... Não se recordava de onde havia guardado sua fonte de inspiração.
Decidiu sair a procurar... A procurar... Foi até a ponte na saída da cidade, e lá não estava. E procurou... Procurou... Procurou...
Com pressa, caminhou com passos alongados em direção ao bar. A boemia, que é sempre a última a ir se deitar, talvez a tivesse visto passar por ali. Decepção! Lá, só achou um monte de sonhos envelhecidos. Como alguém poderia deixar tantos sonhos assim largados, embolorando, invictos? “De quem poderia ser tantos sonhos frustrados?”, pensou o poeta. Era de Cida, a garçonete que envelhecera servindo àquele bar. Uma mulher de muita beleza e brilho no olhar. E não era só isso. A voz tão firme e doce de Cida fazia de seu timbre algo jamais visto. Sem falar ainda da afinação natural, completamente intuitivo. Era talento puro e genuíno! Uma cantora de alto padrão e sensibilidade. Ela, porém, jamais lutou por seus sonhos. O tempo passou implacavelmente feito um trator por cima de tudo e de todos. Aquela linda e talentosa cantora assistiu de camarote a própria juventude desfilar diante de seus olhos e dizer-lhe adeus. E tudo isso atrás de um balcão de bar. Cida arrancou com amargura todos os seus sonhos das mãos do poeta e jogou-os no canto, do lado de dentro do balcão.
O poeta saiu desarvorado, com vento de imenso pesar soprando-o para longe dali. E foi a pensar: “Senti em Cida a covardia por não lutar e o peso do preço a pagar por isso.” E procurou... E procurou... Ainda mais procurou...
Passou pela casa de seu melhor amigo. Mais querido do que o mais querido de seus entes queridos de sangue, de parentesco que a vida lhe reservou. Não, não estava ali também.
E a procura mais aumentou... E aumentou... E procurou...
Já no desespero, o poeta sentou-se na sarjeta e, sem saber o que fazer, resolveu esperar. “Chega de procurar, agora vou esperar...” Somente esperar!
Passado algum tempo, ele ouviu um barulho ao longe... E de repente, percebeu que vinha do seu coração... O que era aquilo, afinal? Parou para escutar... Escutou... Escutou... Quanta surpresa! Era a sua inspiração, forte, saudável, convicta, a gravar versos e rimas em seu peito já quase inerte no jogo do paciente esperar... Esperar... Esperar...
Ele voltou, então, para a sua casa para repousar... E descansar... E relaxar... Ah, e ser feliz para sempre!


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