Toca
Raul!
Alguém
na platéia sempre gritava. E sempre era atendido. O que quase ninguém sabia é
que o nome daquele jovem vocalista desconhecido também era Raul. E ele se
divertia com a coincidência. E Raul tocava Raul. E o som de seu violão chegava
em dimensões tão distantes que era impossível mensurar. E isso, até aquela
noite, tornava seu coração pleno e completo. Algumas pessoas chamariam esse
sentimento de felicidade. Raul chamava de céu.
Mas
isso mudou naquela noite escaldante de verão tropical. O bar estava já quase
vazio. Pouco movimento. Platéia desinteressada. Músico sem inspiração. Mas, de
repente, Raul percebeu uma luz cintilando no balcão do bar... Uma figura que
provocou arrepios em seu corpo e seu coração instantaneamente aos pulos se
desesperou. Era ela! A pouca luz do ambiente, o tempo que correra por longos e
intermináveis 15 anos, a longa distância que os separavam.. Nada disso impedira
o moço de identificar prontamente Celina, o amor de sua vida. Quem ele sempre chamara
de Céu. Sua felicidade estava ali, diante de seus olhos, ouvindo-o cantar. Raul
errou os acordes, trocou os versos da letra da música e esbarrou no microfone derrubando-o
do pedestal. Algumas pessoas presentes riram e pensaram que fazia parte do show.
O
seu perfume era ainda mais doce. Seus olhos fulguravam como sóis em miniatura.
E o coração de Raul pulsava. Agora, um de frente para o outro, a vida ganhava
todos os sentidos que nunca tivera. E aquele quarto era minúsculo. A cidade,
espectadora, paisagem pela janela. As estrelas, silenciosas, choravam com a
emoção vivente. E o beijo daquela mulher era agora mais importante do que o ar
a se respirar... E o amor bailava por aquele quarto.
Quando
Raul e Céu se conheceram eram muito jovens, adolescentes. E nunca tinham
namorado com seus físicos, com seus corpos. Ficaram nus juntos apenas uma vez, mas Céu
teve medo e recuou. E a visão daquela mulher - tão amada - entregue, nunca saíra da
mente de Raul.
Muito
tempo depois ela estava nua novamente. Corpo bem diferente. Uma mulher agora.
Ainda mais linda. Exuberante. O coração do rapaz disparado dava a impressão que explodiria
a qualquer momento.
E
os dois apenas se olhavam.
Apenas
se sentiam.
E,
muito tempo depois estando assim, olhos nos olhos, um diante do outro, Céu viu
o olhar do moço deslizar por seu pescoço e se instalar em seus seios bem
formados. Disse, então, carinhosamente ao amado:
- Toca,
Raul!
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