sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Esquinazofrenia


 



O meu coração tem milhões de becos

E cada rua, cada esquina, cada arvoredo

Remete ao rebento sonho antigo

Que pulsa o pulso latente e cortante;

A vontade imensa e incessante

Que o meu coração tem de existir.



O andarilho, o despojo, o mendigo

Que carrega suas ausentes lembranças

Amarrotadas dentro de um saco de lixo

Pintado com cores de perdidos sorrisos.



Cada voz que ouço me chamando

Cada ilusória realidade que invento

Cada vulto que me apavora

Cada grito que quebra o meu silêncio

Cada insulto que me desaprova

Finjo esquecer em cada esquina que dobro;

Fujo daquilo que sou eu mesmo em dobro!






 
Porque dentro de mim há esquinas incontáveis e incalculáveis caminhos que se aproximam, se cruzam e novamente se distanciam... Ao infinito! Cada um de mim fica por essas esquinas à espreita me esperando passar e, no momento exato - nem mais, nem menos - me surpreendem modificando todo o trajeto que me fez ser quem sou. Há tantos de mim em imensuráveis esquinas no meu ser e, mesmo assim, se faltasse um, apenas um, já não seria mais eu. Seria um outro! Conheço poucos, mas amo a todos.


domingo, 17 de novembro de 2013

A Descendente de Zeus!

 




Era uma vez um aprendiz que precisava nascer... Um dia Deus precisava mandar à Terra um ser que ainda tinha muitas coisas a aprender e outras tantas infinitas coisas a evoluir. E surgiu então um impasse! Porque essa criatura era muito inacabada, muito primitiva e permitir que ela tivesse todas as condições necessárias para seu crescimento seria tarefa deveras árdua e complicada. A necessidade urgia e o tamanho da responsabilidade agigantava. Um aprendiz naquele estágio de embrutecimento precisaria de alguém muito iluminado e empenhado em lhe ensinar. 

Foi então que Deus convocou uma assembleia dos seus anjos mais destemidos e guerreiros. Todos recuaram diante da oferta de uma missão tamanha. Como o próprio Criador inventou o livre-arbítrio não poderia obrigar nenhum de seus anjos guerreiros a cumprir tal missão. 

Não houve outra saída para o Mestre do Universo: Ele colocou as mãos na massa e esculpiu uma criatura ímpar. Ela não pertencia a nenhuma falange ou casta celestial já existente. Não possuía asas, nem armas, nem voava. Deus colocou somente uma ferramenta: o olhar! Um olhar seu abriria fendas, oceanos, sorrisos. Mas, também poderia fazer muitas criaturas se curvar. Porque seu olhar estava repleto de palavras, as mais sábias. Então, Deus a muniu de tanta sensibilidade que seria capaz de criar e cuidar de imensos jardins. Ela, então, passou a ter o poder de florescer rosas e orquídeas em esplêndido gesto de comunhão com o Pai Celestial que as criaram. 

Depois de pronta, Deus a chamou em reunião e comunicou-lhe a missão:

- Haverá um aprendiz que chegará na Terra com muitos defeitos e muitas coisas a aprender. Imensas. Inúmeras. Ele será todo defeituoso e você deverá cuidar dele e ter paciência e criar todas as condições que necessitar para que seu aprendizado se complete. 

Desde então essa guerreira, jardineira de sorrisos e florista de almas, tem ensinado aquele aprendiz a cuidar de si mesmo. Quando é necessário colo ela o conforta. Quando é preciso firmeza ela o faz refletir. E um único olhar seu tem feito o aprendiz se encher de mais e mais força para continuar a aprender. Por vezes ela também sente suas forças diminuírem, mas é feita da luz de Deus e, por isso, irradia raios solares por onde passa.

E, do firmamento, Deus observa sua guerreira cuidando daquele aprendiz, ainda hoje, depois de tantos anos passados, e pensa com doçura e sabedoria: acertei mais uma vez!

Na Terra ninguém sabe que aquela mulher delicada e forte, sorridente e doce, firme e frágil, sábia e também aprendiz, dançante, realista e sonhadora é a mãe de um aprendiz de poeta, filósofo e homem. E todas as vezes que quer falar com Deus, ele pensa em sua mãe e se lembra que Ele a criou para o ensinar, o proteger, o amar e fazer dele o que sempre fora - ser humano!

Quem a conhece sabe que seu nome é Zenaide, a descendente de Zeus!
    

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Salve, Amigos da Sofia!

Hoje, dia 18 de Novembro, é aniversário da minha mãe, D. Zenaide! Quis homenageá-la com alguma coisa bonita e que expressasse o meu amor e minha gratidão por ela. O texto acima acabei de escrever, mas penso que ela merece mais do que isso, muito mais! O soneto abaixo já escrevi há algum tempo e até o publiquei no Amigo da Sofia, mas decidi colocá-lo abaixo para quem não o leu ainda. Enfim, é dia especialíssimo de celebração e agradecimento. 

Minha mãe, feliz aniversário! Que Deus te abençoe e ilumine sempre com todas as flores e todos os sorrisos que tu mereces por sua estrada... Saúde, luz e paz! Bjs!

FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA MÃE!


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Soneto Para Minha Senhora



Seus versos são escritos com atitudes

Suas palavras são mais fortes porque são vividas

Seus olhares são lições que provocam inquietudes

Suas ações são pensadas, ponderadas e refletidas.



As melhores lembranças que tenho da vida são a seu lado

As cores mais bonitas que pincelei pelo caminho são suas

As incertezas, fraquezas e medos foram banidos no teu colo

As primaveras mais floridas foram iluminadas por suas luas. 



Eu e você somos somente um ser divido em dois

Um único rio que corre por percursos diferentes

Uma mesma manhã onde brisa e orvalho são sóis.



A simplicidade que te traduz me inspira 

O amor que trazes no coração me fortalece

A sabedoria que te orienta é exemplo que alimenta.

domingo, 10 de novembro de 2013

Soneto Das (Minhas) Construções

 
 
 
Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo o que eu não sei é que constitui a minha verdade.
Clarice Lispector

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Meu mundo é feito de vontades
 
Minhas vontades são repletas de fomes
 
Todas as minhas fomes refletem desejos
 
E os meus desejos me consomem.


Minha alma anseia por brisa
 
Minhas brisas surgem repentinamente de sorrisos
 
Meus sorrisos emolduram nuances da delicadeza
 
E minhas delicadezas nasceram de momentos imprecisos.


Todas as cores que meus versos desenham
 
Todos os desenhos que minhas rimas permitem
 
Todas as permissões que os meus sentimentos perfumam


Fazem os meus passos mais firmes
 
Fazem o meu coração mais leve
 
Fazem a minha poesia mais real...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Verso Puído





Todas as cartas que não escrevi

Rasguei e queimei

Todas as palavras que não disse

Engoli e engasguei

Todas as alegrias que não vivi

Perdi e escondi

Todas as amizades que  não quis

Desbotei e envelheci

Todas as musas que não bebi

Matei e esqueci

Todas as vidas em uma só que deixei

Desperdicei e morri...



domingo, 3 de novembro de 2013

Rasuro e Rabisco





 Arrisco um rabisco

Mas a folha é bolha

Que explode acorde

Retumbando sonâmbulo

O pesadelo austero

Do qual fujo e me sujo

No sorriso impreciso

Que entorpece e amanhece

Meu coração em devastação

Escrevendo e sangrando

Sentindo e morrendo

Querendo e insistindo

Pedindo e rejeitando

Sucumbindo e Renascendo.

 



sábado, 2 de novembro de 2013

Depois do Inevitável

 
 
 
É da simplicidade que sinto falta.

É do cheiro das coisas mais banais como, por exemplo, a terra molhada de chuva, ou de um café sendo feito logo ali, na casa da vizinha.

É um abraço - que tantas vezes neguei por pressa - o que mais me corrói o pensamento: Por que não abracei mais as pessoas que eu amo tanto ainda agora?

É de sorrisos que agora o meu caminho padece.

É de um bom dia mal-humorado. De um até logo impaciente. De um tchau sufocado pelo horário.

É de sentir o gosto de todas as comidas que joguei no lixo. De todas as vezes que abri a geladeira e, ingrato, disse: "Não tem nada pra comer nessa casa?"

É de ouvir as histórias que desprezei das pessoas que vinham até mim apenas para sentirem-se alguém.

É do momento sem fazer nada no meio do dia. Agora é só trabalho. Dos instantes em que não me larguei olhando para fora pensando em alguma bobagem.

É de usar as palavras mais docemente... Desejando a construção do ser alheio.

É de não parar um segundo do meu tempo tão precioso para contemplar uma réstia do sol em minha tez. Ou uma gota daquela chuva tão inesperada. Ou uma flor. Sequer um jardim.

As cores! Não posso mais...

E as lágrimas? Como as evitei! E agora são delas que não consigo esquecer.

Os passeios com o meu amor... Todos deixados para depois porque havia algo mais urgente a ser feito.

Os banhos de chuva.

Os livros que não li por causa dos relatórios sempre tão necessários.

As ajudas que neguei por mera indiferença.

Os sorrisos não abertos por uma piada mal contada. E eu que nem sabia contar piadas ficava julgando as piadas dos outros.

Os "eu te amo" que ficaram prisioneiros na garganta.

As orações que nunca fiz agora me fazem falta. Muita falta.

Os beijos que deixei para uma ocasião especial... Todos não dados!

Os amigos não feitos.

As amizades que não cuidei.

As pessoas que perdi por minha irresponsabilidade.

Ou desatenção!

As brigas que causei sem razão nem, tampouco, perdão.

Os perdões.

Como queria pedi-los!

Os gritos. As danças. Os safanões.

Agora só o arrependimento de não ter usado o que tive com tanto amor e tanta vontade que seria pouco demais a eternidade:

Vida!

Eu esperei tanto... Mas, o tempo não esperou!
 
 
 
Tirei essa fotografia indo trabalhar em um dia qualquer...