domingo, 28 de julho de 2013

Ser Humano Pessoa




Falar do que ninguém entende

Com alguém que não pretende

Sentir o que existe aqui

É cavar ainda mais fundo

Buracos no mundo

Da poesia fluente

Que pulsa... Pulsa... Pulsa...


Mas a persistência latente

Confere a alma guerreira

Gana para se fazer ouvir.


É tão simples sentir

E tanta gente com medo

Procurando defeito no enredo

Criado para compensar o que atordoa.


No ser humano pessoa

Ainda vai reinar

A entrega ao sentimento.


Ainda dará o coração

Necessário consentimento

Para a felicidade, de fato, existir.

Sem emoções abafar

E nem sequer

Um único sorriso inibir.


Aí a obra estará completa!










sábado, 27 de julho de 2013

Flor de Anômalo




Tantos telhados te abrigaram

E outros tantos cobertores te aqueceram

Enquanto você visitava o desconhecido

Para trazer em seu coração já remido

A anomalia

Que outrora esbaldava corpos sadios

Na tentativa insana

De uma cura profana

Para os anseios tantos


Correr já não te basta

Morrer já não é importante...


E outras horas

De uma regra tão gasta

Não mais te aflige o sorriso

Em seus fortes delicados passos

Que trazem o corte preciso

Na vastidão do jardim

Que exala perfumes incoerentes

E espinhos servindo de laços

Para as rosas mais eloquentes


E tudo bem pra mim

Se assim

Você consegue ser feliz

Fingindo (para si mesma) como atriz.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Estranho Lugar Intrínseco




Nesse frio oceânico
Um farol de luz quentinha

Um abraço sem braços limítrofes
Um aconchego sem enredo, suave

Um lugar para não se lembrar
Porque não se pode esquecer

Acelerado
Com uma vida que não se demora

Intenso como a aurora
Que chega na hora que deve ser

O desconhecido
Já tão presente e antigo

O intimo
Um lugar de permanência

Sítio da Nona, no interior de SP... Fotos tiradas por mim. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Transliteração





Tales precisa escrever. Voltar a escrever. Com desespero. Com urgência. Com entrega. Como fazia quando era jovem. Tales nunca foi jovem! Sempre teve aquela alma carrancuda que arrastou ao longo de sua existência. Ele já se sentiu diferente. Já permitiu sorrisos que hoje não sabe mais onde estão. Deixou-os cair pelo caminho. Abafou cada um deles naquele peito arfante sem razão alguma. Camuflou um a um em forma de versos e os chamou poesia... Ah, se todos soubessem! Todos que conheceram alguma palavra que repousou no papel depois de tê-lo reparado por dentro. Tão denso. Tão complexo. Tão diferente de si mesmo contrariando todas as filosofias existentes. Todas!
A sua audição, o seu tato, todos os sentidos permanentes em Tales sempre foram receptores que funcionaram de forma tão desconhecida. Ninguém nunca entendeu. Assusta. Machuca. Afasta sempre muita gente... Toda a gente. Não resta ninguém. Só o próprio Tales. E tudo isso já serviu, algum dia, de inspiração. Todas as sensações foram transliteradas talentosamente... Talentosamente...
Um talento que, Tales sabe, nunca fora seu. Porque já não o reconhece. Ele já não reconhece a si mesmo. Conhece sim quem está dentro soprando sorrateiramente, minuciosamente a vida que circula por suas veias de sangue já tão sem vigor. Rubor disperso. E, contudo, ele já não sabe mais escrever o que nunca escreveu. Não sabe. Acabou perdendo o que nunca havia encontrado. Perdeu-se. Esqueceu, por fim, o que nunca conseguiu aprender. E não aprendeu de verdade.
Hoje Tales precisou limpar as lentes dos seus óculos tão ultrapassados. Não conseguia enxergar. Tudo era névoa. Tudo estava sujo. Tinha que limpar. Só o lenço não resolveu. Lavou. Sabão, água, enxágüe e secagem. A sujeira ainda ficou. Permaneceu. O sabão não limpou. A água não fez daquilo passado. Tolice! Tales e suas tolices... Unicamente dele. Tolice dele. Só. Não eram as lentes que estavam embaçadas. Eram os seus olhos. E ele não conseguiu perceber. Nem isso, Tales! Não entendeu que seus olhos estiveram enevoados. Durante muito tempo. Todo o tempo. Ainda hoje estão. Ainda agora. Encobertos pelas lágrimas que não nascem. Que não brotam. Que nunca conseguiram existir. Tales não permitiu. Não consentiu. O pranto que não vem mais alimentar os seus versos. Os pensamentos desconexos. Sentimento de abandono. Abandono. Secou tudo. Secou. Até mesmo Tales. Por isso não escreve mais. Acabou o que alimentava a pena. Envelheceu. Sempre fora tão velho. Ficou ainda mais. Sempre foi. Antes, porém, escrevia. Antes fazia versos. Com desesperança. Com entrega. Com ardor. Sofreguidão. Soluços. Espasmos. Com vontade mesmo de transliterar o que era indecifrável. O papel amarelou. O vento soprou o pó estelar que pululava de seus olhos. Foi longe.
Existe ainda a ânsia. A necessidade. A dependência... Ainda há a vontade e Tales quer tanto. Precisa muito. Não dá, elas fogem. Ele caça cada uma com a fome de uma fera. Não as encontra. Não sabe mais onde andam. Onde habitam. Do que se alimentam. Onde se soletram na ciranda mais viva e terna dos poetas. Tales não dança mais nesta ciranda. Nunca dançou. Precisa delas e não mais as identifica. Elas se movimentam. Rápido demais. Ele não... Silêncio. Silencia-se. Quem é mesmo que ele está invocando? A quem chama? Quem é que lhe falta, Tales, além de ti mesmo? Ele já não se lembra...
 
 

terça-feira, 9 de julho de 2013

Tímido Estímulo







Um tímido estímulo

Desvalido artefato

De um coração decalcado

Que em queda livre

Livra o firmamento

Das preces desorientadas

De um poeta em disparada

Procurando o que não perdeu

Mas nunca encontrou.

Desencontro, desarranjo

Arcanjo arrancando as penas

E o sufoco arfando sem pernas

Para alcançar o horizonte

Que a ponte quebrada não mostra

Mas aquele poeta limítrofe gosta

Por pura amostra de inspiração

O estranho e sorrateiro estampido

Ressoa de um tímido estímulo.