Uma
oração antes de dormir, na noite anterior, talvez tenha sido a diferença que eu
não percebi...
Um
velho barbudo, incrivelmente baixinho e misterioso me dizia para receber o seu
presente com humildade e usá-lo com sabedoria porque não haveria outro igual.
Acordei
antes de o relógio despertar às oito horas. Estranho. Isso praticamente nunca
acontecia. E o velho? Não sabia ainda se sonhara ou se aquela conversa, de
fato, existira. Percebi que estava na cama. Minha cama. Meu gato dormindo
recostado à minha perna direita. Levantei. Andei pelo minúsculo apartamento
onde moro há mais de um ano. Sozinho. Moro só e estava só. E o velho? De
repente o sinal da campainha da porta tocou. Assustei-me severamente. Sabia que
o prédio estava quase vazio. Prédio pequeno, poucos moradores. Nessa época do
ano todos viajando. Para alguém chegar à porta do meu apartamento teria que
antes passar pelo portão lá fora e pela porta de vidro temperado que dava
acesso ao prédio. Pelo menos três chaves diferentes uma da outra.
Ah,
como pude esquecer?
Havia,
realmente, a possibilidade de alguém entrar voando, já que as janelas nos
corredores ficavam abertas para ventilação... Não! Possibilidade descartada!
Fui
até a porta - já que o toque da campainha insistia cansativamente - e, antes de
simplesmente destrancar a porta e abri-la, verifiquei o olho mágico. Não sou
alguém que consome bebidas alcoólicas. Ou substâncias ilícitas que deturpem a
compreensão da realidade. Quem me conhece sabe que sou a pessoa mais careta
desse universo. Mas, o que vi realmente aconteceu: a silhueta daquele minúsculo
velho barbudo começando a descer o lance de escadas para sair do prédio.
Rapidamente apanhei a chave da porta e, ao abri-la, corri para tentar me
certificar que era o mesmo velho... Não consegui mais a visão de nada. Mas,
existira alguém ali. Ouvi a porta de vidro de acesso ao prédio se fechando por
fora.
Brincadeira
de péssimo gosto. Certamente!
Esbravejei
mentalmente um monte de coisas feias e voltei em direção a minha porta.
Tropeção. Quase caí de rosto no sofá perto da entrada. Já ia vociferar outros
palavrões - ainda mais escabrosos que os primeiros - quando percebi que o meu
tropicão tinha se dado por causa de um objeto depositado no capacho. Obviamente
aquilo fazia parte da brincadeira feita contra minha pessoa por algum vizinho
metido a comediante. O embrulho era igualmente estranho. Envolto em um tipo de
papel grosso e fosco que nunca vira antes na vida. Amarrado com uma espécie de
cipó. Que trabalheira somente para passar um trote em alguém...
Mas
o meu nome estava escrito na beirada do pacote. Uma letra inacreditavelmente
linda. Brilhante. Reluzente. O pacote era leve, retangular, não muito volumoso.
Imaginei algumas possibilidades e decidi abrir de vez porque só assim acabaria
com aquela piada. Esperava a qualquer momento algo saltar do pacote e me pregar
um susto. Ou alguém adentrar o apartamento com apitos ou buzinas de zombarias.
Mas nada disso aconteceu.
A
voz daquele velho ressoou por todo o local: "lembre-se, não haverá
outro igual... Use-o com humildade e sabedoria!" O susto foi realmente
gigantesco ao ouvi-lo e cheguei mesmo a procurá-lo por todo o recinto. Mais
calmo voltei ao pacote já quase desfeito.
Para
minha surpresa o embrulho protegia um livro. Capa dura de um material muito
parecido com tecido. Tamanho um pouco maior do que um livro comum. Uma cor
neutra e leve. Nada estava escrito na capa. Nem título, nem autor. Fiquei
apreensivo. Folheei-o. Absolutamente nada estava escrito. Palhaçada mesmo! Um
livro em branco... Percebi que somente as páginas estavam marcadas. E, subitamente,
uma suspeita - intuição - me tomou e fui até a última página do livro. Para a
minha surpresa a última página desse estranho livro marcava 365.
"Não haverá outro igual... Use-o com
humildade e sabedoria!"
~ .::. ~
Queridos Amigos da Sofia,
Obrigado por tanto carinho, amizade, gentileza, colaboração, força e incentivo! A todos, o meu humilde e sincero agradecimento! Que o novo ano seja repleto de saude, aprendizado, sabedoria, boas energias e vida!
Luz e Paz!
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