Meu pai,
Como vai
a vida? Espero que esteja com saúde e bem.
Imagino a
sua surpresa ao receber uma mensagem minha. Já faz muito tempo que estou querendo
te escrever, mas, deixei a idéia amadurecendo dentro do meu coração até que eu
estivesse pronto. E aqui estou. Há muita coisa a ser dita e não sei bem como
ordenar os pensamentos no papel de forma clara, mas, vou tentar assim mesmo.
Bem, vou
começar lhe contando como está a minha vida.
Estou
estudando e trabalhando muito. O curso de Filosofia é muito puxado, pois exige
muita leitura e raciocínio, enfim, dedicação absoluta. Mas, estou super feliz
com o curso que estou fazendo e, a cada novo dia que Deus me permite viver, me
apaixono ainda mais pelo mundo do conhecimento. Tenho plena certeza de que
encontrei o meu caminho e estou trilhando-o passo a passo com muita fé e garra.
Apesar de todas as adversidades e reveses da vida estou tentando aproveitar o máximo
que posso dessa oportunidade maravilhosa que tive de estudar em uma ótima
universidade pública. E toda essa determinação se reflete no meu
aproveitamento, no meu rendimento em relação a tudo o que estou aprendendo.
Fechei o ano de 2005, o meu primeiro ano de universidade, entre os cinco
primeiros alunos da minha sala. Isso mesmo: entre os cinco melhores da minha
sala. Passei direto em todas as disciplinas e não peguei sequer exame. Isso
para mim foi muito importante. Estou contando isso não por vaidade ou para me
gabar, mas, porque isso é resultado de um ano árduo de muita labuta e
dedicação.
Estou
tentando crescer espiritualmente o máximo que eu posso, pois acredito que esse
é o sentido de estarmos aqui e passarmos por tudo o que passamos: crescer
espiritualmente e como pessoa.
É isso,
pai, estou distante e lutando muito.
Prometi para
mim mesmo que nesta carta não falaria das coisas que passaram. Mas, é
inevitável. Sei que muita coisa entre nós dois ficaram pendentes e
mal-resolvidas. Sei também que muitas vezes fui muito duro contigo. Sei que sou
o seu filho mais turrão e cabeça dura. Sei que dos seus quatros filhos,
provavelmente, eu seja o mais parecido contigo e justamente por isso o filho
que mais te questionou, te cobrou e foi duro contigo. Tenho consciência de
muitas outras coisas, que se eu escrevesse daria um livro. O livro das nossas
vidas. Um dos motivos que estou aqui, através desta carta, me abrindo é o
seguinte: preciso fazer a diferença. Preciso ser aquele que dá o primeiro passo
rumo aos objetivos necessários. E aqui estou para te pedir PERDÃO. Sim, perdão
sim. Pelas vezes em que fui egoísta e não pensei nos seus sentimentos. Pelas
vezes que senti raiva ou rancor atrapalhando assim a minha e a sua vida. Pelas
vezes em que tive vontade de te abraçar, mas não tive coragem. Pelas vezes que
quis te perdoar, mas não tive sabedoria. Pelas vezes que precisei de um pai
presente, mas não soube valorizar o que eu tinha ao meu alcance. Pelas vezes
que tu precisaste de um filho para te ouvir ou te dar carinho, mas eu não
estava acessível. Por todos os abraços que tanto eu quanto você ficamos
esperando que o outro desse e assim passamos a vida sem abraços. Pelas vezes
que quis chegar até o seu coração, mas errei o caminho. Enfim, meu pai, por
tudo o que eu fiz de errado ou simplesmente deixei de fazer até hoje. Não sei
se amanhã estaremos vivos para saber. Então decidi não ir dormir mais esta
noite sem te dizer tudo o que eu preciso. E eu preciso te dizer que em meu
coração já não existe mais nenhum ódio, nenhum rancor, nenhuma raiva, nenhuma
mágoa. Absolutamente nada. E é por isso que estou aqui agora para te dizer tudo
isso. Quando eu vim embora para o Paraná, a última coisa que eu te falei foi
que ainda dava tempo para consertarmos as nossas vidas. E continuo acreditando
nisso. O passado é escola, o presente é oportunidade, o futuro é superação. O
meu coração realmente mudou sob alguns aspectos e agora estou com a minha alma
leve para te dizer tudo isso.
Se algum
dia você me permitir ainda vou cuidar de ti, assim como quero muito cuidar da
minha mãe e dos meus irmãos.
Um beijo do seu filho Whesley
.::.
E-mail escrito em 13 de Janeiro de 2006.