sexta-feira, 30 de abril de 2010

Pétalas de Espinho e A Valsa Derradeira


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Posso até saber das flores

Mas, ainda enfrento espinhos.

Quero até novamente amores

Mas, ainda sinto só o caminho

E, quase sempre, preciso do que não posso...

Mesmo fugindo constantemente

Sei que existe em um inconsciente

Consciente a última gota a ser pingada.

Em um misto de saudade e amargura

Vou me perdendo nos sentidos dos sentimentos

Que descrevem nova e outra figura

Na descompostura

De emoção que me cerca

Que me absorve, observa

Que me soterra

E mesmo assim ainda brota a relva

Da poesia que me faz força

E transborda a poça

Das flores que sei

Pois, espinhos enfrentei

E hoje vigoram pétalas.



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Salve Amigos da Sofia!

Hoje escolhi para compartilhar com vocês dois textos - e, com eles, dois momentos da minha vida - muito especiais para mim. Os dois estão diretamente relacionados com amizade, com tantos sentimentos orbitando no coração de um jovem e humilde poeta que tenta aprender com tudo o que vive.
O poema acima foi mais um dueto, uma das parcerias poéticas tão intensas que tive com a minha irmã de alma Luciana de Lima nos bares da vida por este mundo afora. Eu e Lu escrevíamos sobre tudo o que nos movia ou paralisava. E como eu sempre acreditei no poder catártico da poesia, nós conseguíamos atravessar qualquer tempestade - ou dia de sol - depois de dar vida aos versos que pululavam.
Decidi colocar na mesma publicação um texto que escrevi quando uma fatalidade levou uma outra grande amiga e artista que eu tinha em meu convívio... Uma bailarina que sempre dançou com a alma e encantou quem a via flutuar... Eu a vi flutuar muitas vezes... E isso me fez também mais leve...

Vamos celebrar a amizade!

Luz e paz!!!

Com carinho profundo e gratidão sincera,
Whesley Fagliari



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A Valsa Derradeira

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Quando a morte passa perto arrastando alguém que nós temos em nosso convívio sempre deixa a lembrança de algumas reflexões que podemos fazer, mas, que sempre ficam engavetadas em algum compartimento do nosso ser onde não visitamos nem, tampouco, admitimos que precisamos reorganizar de quando em quando. É incrível como este tema mexe com tantas coisas diferentes e recorrentes que, no dia a dia, ficam sempre à margem, à espreita, prontas para apresentarem-se. Enquanto o nosso olhar é desviado já automaticamente para outras direções. O colorido nem sempre está cintilante. O preto, o luto, a negritude da dor causada pelo despreparo em entender processos tão naturais pode agigantar-se com frequência, inevitavelmente - já que somos humanos e temos a vida e a morte como elementos do mesmo ser... Nosso próprio ser! Tantos autores, poetas, filósofos, pensadores, religiosos, acadêmicos tentaram e tentam incansavelmente entender e, ainda mais do que isso, explicar o processo de morte por toda a história da humanidade. Cada um com a sua maneira diferente de ver, aceitar, conviver e explicar o que não conseguem solucionar. É um assunto latente transpassado pela trajetória humana. Na Grécia antiga, por exemplo, o filósofo Platão já discutia o assunto e defendia sua teoria das ideias - onde existiria dois mundo completamente distintos: o das ideias e o sensível - que incomodou tanta gente. No livro Fédon o pensador em questão relata o último dia de vida do seu mestre. Sócrates, mestre e amigo de Platão, fora condenado pela cidade e seus governantes sob a acusação de desvirtuar os jovens atenienses e profanar a religião vigente. Sua condenação: morte por ingestão de cicuta, um poderoso veneno. Alguns amigos de Sócrates chegam para visitá-lo na prisão no dia em que ele seria executado. E qual a surpresa da comitiva de visitantes! Eles encontram o filósofo, que ficara imortalizado por sua ironia, feliz, comemorativo e até mesmo ansioso para o momento de glória. Tudo isso porque eles defendiam que o corpo, os desejos provenientes do nosso físico distancia-nos do que realmente deveríamos ter como conduta de vida: a contemplação e reflexão acerca de nós mesmos e de tudo o que temos a oportunidade de vivenciar. Sócrates bebeu a cicuta. Morreu feliz dizendo que estava indo se reencontrar com sua verdadeira essência. Mas, e quem ficou? Como ficou? Hoje falo sobre a morte, mas, não gostaria que parecesse pesado. Por isso falei de Platão e Sócrates. Mesmo porque estou tentando acreditar que não seja algo tão contrário a nós seres humanos. Se não me falha a memória foi Drummond quem escreveu que se a morte não existisse nós daríamos um jeito de inventá-la porque viver eternamente seria o maior e mais completo tédio. Cecília Meireles canta em seu poema Motivo a leveza da voz que um dia estaria muda... Um livro que li faz bem pouco tempo, A Menina Que Roubava Livros de Markus Zusak, traz uma narrativa um tanto quanto peculiar. O personagem que perpassa todo o livro narrando a história de uma menina alemã - Liesel Meminger - que roubava livros da biblioteca da primeira-dama da cidade onde mora é ninguém mais ninguém menos do que a própria Morte. O livro é surpreendente e deliciosamente fácil de ler. Uma visão romântica, admito, mas, porque não aceita-la como potencialmente verdadeira? Talvez este livro que acabei de citar (e indicar) seja o melhor exemplo de tudo o que estou falando aqui. De como não quero acreditar na deselegância da morte. De como não admito pensar nela como uma caveira horripilante de foice na mão. É provável que seja uma forma de ilusão. Confesso! Quero, entretanto, ver a morte hoje como uma bailarina de luz tão leve quanto uma brisa de verão. Uma bailarina com a pureza de uma criança que dança. A dança tão envolvente e sensível que chega com toques de violino e raios luminosos coloridos. Hoje é a bailarina que quero pintar. Aquela que dança, encanta, envolve e faz a dor parecer imensamente pequena e passageira diante de tamanha grandeza. A moça de sapatilha esgarçada pelo tempo e pelo uso que faz o farfalhar de sua roupa tremeluzir. E a vida, sua parceira na valsa derradeira, despede-se, não de quem vai, mas, de quem fica. E que as lágrimas se transformem em notas, acordes para a bailarina que nunca pára de dançar... E nunca pára de encantar... E nunca pára de fazer da alma algo tão leve e doce que é capaz de flutuar!


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Pelos Olhos de Alice

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Alice via


O que há


O que ali se via


Para
não olhar

E guardar


Ali se via


Alice viva


E vivia


E amava


E morria


De tanto


Amor


Que havia


Nos olhos


De Alice


Ali sempre!!!




quarta-feira, 14 de abril de 2010

Seres

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Durmo olhando para o céu


Em meu leito de repouso


Com a imensidão a me ninar.


Seres cavalgam em meu sono


E já não sou mais dono


Do meu sonhar.


Quero correr


Preciso voar


Para qualquer que seja o lugar


Onde estão a me esperar


A paz


O amor


O suor escorrendo o calor


Do sol mais puro.


E enquanto durmo


Os seres dentro de mim


Lutam, trabalham


E repousam em sorrisos de jasmim


Os mais profundos sentimentos


Remexidos


Bagunçados


Guardados em um sopro de acalento.





domingo, 4 de abril de 2010

O Poeta e a Sua Rosa Azul

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Dedicado a Ulisses



Odisseu. O poeta. De tempos longínquos. De versos luminosos. Encantados. Versos únicos. Feito todos os versos. Que são únicos. E mágicos. Poeta. Odisseu. Que ama rosas. Rosas lindas. Ama. Odisseu, o poeta. Especialmente as raras. Rosas. Raras. Que não freqüentam qualquer jardim. Jardim qualquer. Não freqüentam. Não. As rosas. Raras. Que Odisseu admira. Raras. Rosas. Como os versos. Seus. Únicos. Preciosos. Falando de amor. Amor. Semeando. Junto às rosas. Junto. E ninguém sabe. Ninguém. Sabe. Que a rosa mais rara. A mais. Rara. Rosa. Azul. O poeta cultivou. Com amor. De poeta. De Odisseu. Afinco. Dedicação. Cultivou. A rosa azul. Rara. Que ninguém sabe. Que existe. Mas, existe. E regada é. Com poesia. Com os versos. Únicos. Luminosos. Encantados. Como é aquela rosa. Aquela. Específica. Do poeta. Odisseu. Aquela. Rosa. Rara. Azul. Naturalmente. Que só aparece. No jardim dos seus versos. Somente. No jardim. Aparece. Dos seus versos. Únicos. E todos sempre pensam ser loucura. Loucura! Todos. Pensam. Sempre. Devaneios. De poeta. Loucura. Todos. Acreditam. Mesmo. Odisseu. Sorri. Gargalha. Odisseu. Diverte-se. Da ignorância. Da descrença. Da pobreza. De espírito. De todos. Que nunca acreditam. Não. Acreditam. Na rosa. Raridade. Azul. E nos versos. Reluzentes. Aveludados. Únicos. Do poeta. Que olha para o céu. O céu. Olha. As noites. De estrelas. Abundantes. Sempre. Tem estrelas. No céu de Odisseu. O poeta. E mais ninguém. Ninguém. Sabe. Ninguém. Que sua rosa. Rara. Azul. Belíssima. Única. Como seus versos. Versos. Raros. Também. Que cantam seu amor. Cantam. Os versos. Seu amor. Único. E maior. Amor. Cantam. Seus versos. Por sua rosa. Rara. Sua. E ninguém sabe. Ninguém. Que Odisseu. O poeta. Odisseu. Escondeu. Na lua cheia. Sua rosa. Rara. Azul. Completamente. Rara. Junto com seus versos. Versos. Únicos. Raros. Cintilantes. Reluzentes. Versos. Juntos. Escondidos. Em um jardim magnífico. Jardim. Magnífico. Escondido. Na lua. Cheia. Abrigo. Refúgio. Da rosa. Do poeta. Odisseu. Azul. O amor. Raro. O amor. Único o amor...






sábado, 3 de abril de 2010

Ser Humano Pessoa

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Carybé - Mulher Deitada


Falar do que ninguém entende


Com alguém que não pretende

Sentir o que existe aqui

É cavar ainda mais fundo

Buracos no mundo

Da poesia fluente

Que pulsa... Pulsa... Pulsa...



Mas a persistência latente


Confere a alma guerreira

Gana para se fazer ouvir.



É tão simples sentir


E tanta gente com medo

Procurando defeito no enredo

Criado para compensar o que atordoa.



No ser humano pessoa


Ainda vai reinar

A entrega ao sentimento.



Ainda dará o coração


Necessário consentimento

Para a felicidade, de fato, existir.

Sem emoções abafar

E nem sequer

Um único sorriso inibir.



Aí a obra estará completa!