domingo, 12 de dezembro de 2010

Vestígios de Urucum

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“Quando a grande nave apareceu flutuando sobre as águas, foi espanto total. Uns acreditavam ser um deus surgindo das profundezas, outros tinham a certeza de ser algum monstro aquático. Enquanto uns fugiram, outros guerrearam...”

O garoto, preso no trânsito de uma grande metrópole ao lado de seu pai, ao ler s
obre o descobrimento do Brasil, deixou sua imaginação escapulir e navegar através do tempo, da história, pela mente da inocência há tempos perdida.

Ao passar pelas ocas, pelas crenças, pelos medos, pelas conquistas e derrotas indígenas, sentiu uma força extrema invadir o seu coração impulsionando o seu corpo para uma sensação que só os verdadeiros guerreiros ousavam sentir: o dever de lutar por sua terra.

De repente, estava ele de volta ali dentro do carro do seu pai. Buzinas, freadas, caos tota
l, mas, a sensação, a comoção guerreira crescera e notou que chorava. O garoto olhou para o espelho retrovisor e, tão grande a sua surpresa, viu um curumim sorrindo refletido. Olhou para o seu pai, alheio a tudo, mergulhado nas ofensas feitas pelo motorista que vinha logo atrás; preocupado em repassar os xingamentos ao motorista do carro à sua frente. Ele entendeu, então, que em suas veias corria o sangue vermelho tingido por vestígios de urucum ancestral. Olhou para o seu pai e disse:

- Sou um guerreiro!

E o jovem senhor, sem dar-se conta do que acabara de presenciar, respondeu distraidamente:

- Somos todos, meu filho! Somos todos!

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