quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Depois do Inevitável

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É da simplicidade que sinto falta.

É do cheiro das coisas mais banais como, por exemplo, a terra molhada de chuva, ou de um café sendo feito logo ali, na casa da vizinha.

É um abraço - que tantas vezes neguei por pressa - o que mais me corrói o pensamento: Por que não abracei mais as pessoas que eu amo tanto ainda agora?

É de sorrisos que agora o meu caminho padece.

É de um bom dia mal-humorado. De um até logo impaciente. De um tchau sufocado pelo horário.

É de sentir o gosto de todas as comidas que joguei no lixo. De todas as vezes que abri a geladeira e, ingrato, disse: "Não tem nada pra comer nessa casa?"

É de ouvir as histórias que desprezei das pessoas que vinham até mim apenas para sentirem-se alguém.

É do momento sem fazer nada no meio do dia. Agora é só trabalho. Dos instantes em que não me larguei olhando para fora pensando em alguma bobagem.

É de usar as palavras mais docemente... Desejando a construção do ser alheio.

É de não parar um segundo do meu tempo tão precioso para contemplar uma réstia do sol em minha tez. Ou uma gota daquela chuva tão inesperada. Ou uma flor. Sequer um jardim.

As cores! Não posso mais...

E as lágrimas? Como as evitei! E agora são delas que não consigo esquecer.

Os passeios com o meu amor... Todos deixados para depois porque havia algo mais urgente a ser feito.

Os banhos de chuva.

Os livros que não li por causa dos relatórios sempre tão necessários.

As ajudas que neguei por mera indiferença.

Os sorrisos não abertos por uma piada mal contada. E eu que nem sabia contar piadas ficava julgando as piadas dos outros.

Os "eu te amo" que ficaram prisioneiros na garganta.

As orações que nunca fiz agora me fazem falta. Muita falta.

Os beijos que deixei para uma ocasião especial... Todos não dados!

Os amigos não feitos.

As amizades que não cuidei.

As pessoas que perdi por minha irresponsabilidade.

Ou desatenção!

As brigas que causei sem razão nem, tampouco, perdão.

Os perdões.

Como queria pedi-los!

Os gritos. As danças. Os safanões.

Agora só o arrependimento de não ter usado o que tive com tanto amor e tanta vontade que seria pouco demais a eternidade:

Vida!

Eu esperei tanto... Mas, o tempo não esperou!
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