sábado, 16 de janeiro de 2010

Temporal Em Dia de Sol

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A ciência não pode explicar
O que sinto

Os profetas
São relapsos

A matemática não consegue calcular
O tanto que necessito

Os filósofos
São arcaicos

A astronomia não é capaz de alcançar
O brilho do que pretendo

Os poetas
São incompletos

Tudo é nada diante do que está aqui
Transitando dentro de mim...


***


Salve Amigos da Sofia,

Este poema que trago hoje de volta - pois já o publiquei há algum tempo remoto no inicio deste blog - me faz muito feliz porque o aprecio demais. Na ocasião em que o publiquei uma grande Amiga da Sofia, Lila, dona do lindíssimo blog MusaePoeta, deixou um cometário que torna-se, por sua majestade e profundidade, um poema a parte e complementador... Por esta razão, e por outras mil lembranças maravilhosas que esta amizade virtual me traz, peço licença a Lila e o publico juntos hoje... Quase como um verso escrito por quantas mãos!!!

Luz e Paz!!!


Segue as palavras de Lila, musa, poeta... E amiga!!!

Não hão mesmo de me explicar ou definir.
Pois que sou a Lua de Eva na tez da Musa e o Sol de Adão na definição do Poeta.
Na manhã existe um riso no meu riso e na tarde, adormeço sob árvores fora do chão.
E, quando a noite se aconchega, uma lira se subjuga a mim num eterno encanto que não se quebrará jamais.
E quando, um dia, alguém unido a mim por um laço de amor vindo das mãos de uma criança, loura como os anjos que me visitam – me decifrar...
Então já não serei mais eu – pois haverei de ter perdido a essência que me tornou uma espécie marginal.
Sinto que posso ser o Ser que une metades perdidas – o nó e o elo. A ofensa e o perdão. E assim, permanecerei estática e absurdamente operante, até que a profecia se cumpra.
Pois sou o reflexo do amor em sua plenitude

E, esse outro Ser – a minha outra metade,
que ousará me definir com o mais completo e satisfatório jogo de verbos,
não mais me encontrará a mim – que ainda nada sou,
mas terá encontrado a si mesmo.
E, dentro desse poço que tem sido o acumulado dos nossos dias, seremos então um só – um terceiro Ser Perfeito que não mais caberá aqui...
Será livre e voará em espaço aberto,
Gotejando luz.
Lila

12 de Abril, 2009


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Dúvida Perfumada

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Se vai ser o vento
Dos meus passos
Que levará
Suas pétalas
Então
Que a viagem
Seja por caminhos
Coloridos...

Se você verá
O movimento
Da vida
Através dos meus olhos
Então
Que a paisagem
Seja de canteiros
Floridos...

Se o estampido
Do meu grito
Alcançar
O seu silêncio
Então
Que a nossa paz
Não se transforme
Em exaustão...

Mas, se conseguirmos entender
Que nos amamos
Então
Que a nossa história seja Real...


domingo, 10 de janeiro de 2010

Chantilly de Chocolate e Amizade


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Não era o café que estava amargo. Era a minha boca. Um azedume que já nem percebia porque me acompanhava desde muito... Domingo. Silencioso. Introspecto. Como já há anos não era. Sempre muito barulho. Conversas. Panelas. Almoço no fogo. E o silêncio sucumbia. Melhor assim. Porque não ouvia meus pensamentos. Não gostava deles. Não os entendia... Os balões ainda estavam pendurados por toda a cozinha. Resquícios do dia anterior. Festa de aniversário. De gente grande, mas parecia de criança. Celebramos ontem a noite a inocência, o vigor, a vitalidade, a natalidade, a leveza das crianças que um dia não fomos. E quisemos ser. Mas, não foi possível. Tudo bem. Claudia estava completando trinta e três anos. A famosa “idade de Cristo”. Uma pessoa tão especial não podia passar o aniversario sem festa. Sem bolo. Sem balões. Sem velinhas. Não, de forma alguma. Precisávamos dar um jeito. Porque são momentos de vivências que permanecem. O amor entre nós é que vai perdurar. Porque é verdadeiro... Corremos até o mercado. Compramos quase tudo. Quase. Faltou a língua-de-sogra. Ah, não! Aniversário sem língua-de-sogra não podia. Mas, o da Claudia foi assim mesmo. Os pratinhos, os copinhos, os garfinhos todos cor-de-rosa. Ela é menininha. O chapéu era de palhaço. O bolo de chocolate. E os balões, coloridos. Enquanto um escrevia feliz aniversário improvisando com letras garrafais em folhas de sulfite coloridas o outro ficava verde de tanto encher os balões. Ah, as velinhas eram duas. Não com números da idade completada. Mas, representando a imensidão da luz que está naquele ser humano. Espalhamos balão por toda a cozinha. Fixamos o sulfite na parede. Arrumamos a mesa. Enfeitamos nossos corações para receber a amiga que estava prestes a chegar. E chegou... Quase tristonha. Pensou que não tinha motivos para celebrar. Mas, tinha. E muitos. Pelos olhos via-se seu coraçãozinho quase apertado. Lembranças. Falta delas. Ausências. Ciclo renovando-se. A vida em movimento constante, permanente. Seu namorado Robson estava junto. Também não sabia de nada. Não tivemos tempo de avisá-lo. Preparamos até uma música infantil de aniversário muito conhecida. Ela estava na porta da cozinha. Vendamos seus olhos. Os corações disparados. Dos quatro, com certeza. Soltamos a música. Tiramos a venda. E os olhinhos verdes de Claudia reluziram. Foi lindo ver. Valeu toda a correria. Como a festa era toda improvisada pedimos pizzas para jantar. Comemos. Conversamos. Todos adultos que somos. Mas, as nossas crianças interiores estavam ansiosas pelo bolo. Rodopiavam ao redor da mesa enfeitada. Esperando aqueles adultos chatos se resolverem. E nos resolvemos. Fomos ao bolo com guaraná. Com chapeuzinhos, com garfinhos, com pratinhos improvisados. Ah, e com balões coloridos. Cantamos parabéns, parabéns, hoje é o seu dia, que dia mais feliz... Ela cortou o bolo de chocolate tão aguardado. Recheado com muito chantilly e amizade. O primeiro pedaço foi para ela mesma. Os outros, para nós. De repente, alguma coisa inusitada aconteceu. A aniversariante já governada por sua travessa criança pintou os nossos narizes de bolo com chantilly. Toda avalanche começa com uma única pedra. Uma guerra de bolo na cara se deflagrou. E foi chantilly de chocolate até no pensamento. O chão branco da cozinha ficou mesclado por pegadas, pedaços de bolo e risadas. Rimos muito. A diversão declarada. As crianças que não fomos – porque a vida nos exigiu muito cedo – brincavam felizes. Sonhos foram realizados em meio a tanto bolo sendo espalhado pela casa. Sujeira crônica. E o melhor de tudo, a lembrança do amor sendo vivido. Irmãos que agora brincavam na mesma história. Depois de toda a patuscada, a casa limpa em mutirão. O calor dos momentos já tinha raízes eternas. Depois de muito a festa acabou. Todos retornaram à suas casas. Nós fomos tomar banho e dormir. Exaustos... Acordei e precisei de um café. Não, ressaca não. Em festa de criança não pode ter álcool. E não bebemos. Não precisamos. Chove. Fiz o café. Já passa das dez. Abri a porta da cozinha e observo a chuva sonolenta, tão serena que quase flutua. Feito recurso cinematográfico. Errei o café outra vez. Ficou amargo, forte. Bebi mesmo assim. Mesmo sabendo que o azedume é da minha boca. Os balões ainda estão pela casa. Ainda bem. Porque eles são a prova de que não delirei. O sentimento é bom. É quentinho. O silêncio de agora é um presente. Mesmo ouvindo os meus pensamentos. Mesmo bebendo um café amargo. Mesmo trazendo um azedume acumulado pelo tempo na boca. Sou grato. Sou feliz. E ao olhar como quem não quer nada, de canto de olho, ainda vejo as nossas crianças interiores intrépidas brincando, se divertindo com bolo recheado de chantilly de chocolate e amizade cantarolando feliz aniversário, irmãzinha do coração... Como se elas nunca tivessem experimentado esta combinação de sabores.



quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Damnum Infectum

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Não sei como sair do labirinto que eu mesmo criei

Chove aqui dentro e não tenho como proteger-me


Quero correr

Sair para a vida



Abrigar-me


Encontro somente caminhos

Que não sei percorrer porque não me levam a lugar algum


Fazer o que?

Ir para onde?


A carne sofre o que o espírito não entende

A alma morre por tão pouco sufocante...


Sei onde estão as saídas

(Lembro onde escondi as respostas)


E porque não vou ate elas?


Sou humano
(E isso deveria ser divino)!



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Alice Desorientada

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Uma noite escura

Tão preta quanto o preto plano

Dos meus sonhos

Era a única coisa que me seguia...

Como um cão

De grandes e firmes olhos

A me perguntar

Se comigo ir ela poderia...

E eu aumentando a velocidade

Dos passos retrógrados

Sem saber como seria

O metro seguinte de chão...

E das pedras

Que se revezavam em uma real constelação

Eu podia esperar a simetria

Do reflexo das estrelas desconexas a me guiar...

Tudo naquela noite era encanto:

A dor que não existia, a possibilidade de voar

A lua em ciranda a rodopiar

Tão lindo que o sorriso era pai do acalento...


Continuei pelo caminho rumando

A noite logo atrás com o rabo a abanar

Não demorei muito para no horizonte alcançar

O sol sonolento escalando o céu já atrasado para trabalhar...